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Alberto Carvalho — Narrador para quem ainda escuta as palavras

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Armas Próprias

Atualizado: há 12 horas

NOTÍCIA · Mundo · Defesa


A China entrou numa nova fase da sua modernização militar ao começar a colocar em serviço aeronaves de combate equipadas com motores desenvolvidos e produzidos internamente, um domínio tecnológico que durante décadas esteve fora do seu alcance.


China consolida autonomia militar e reduz dependência tecnológica do exterior.


O avanço resulta de um esforço concentrado iniciado em 2016, quando Pequim criou a Aero Engine Corporation of China (AECC), um conglomerado estatal dedicado exclusivamente ao desenvolvimento de motores aeronáuticos de alto desempenho.


Menos de dez anos depois, autoridades chinesas confirmam que os mais recentes caças furtivos da Força Aérea do Exército Popular de Libertação utilizam propulsão de fabrico nacional — um passo simbólico num sector considerado crítico para a soberania militar.


Como a China conquistou autonomia militar e industrial.


Durante grande parte da sua ascensão como potência global, a China manteve uma vulnerabilidade estrutural: dependia de fornecedores externos para componentes-chave dos seus sistemas de armas.


Motores de aviação, radares avançados e plataformas de defesa aérea eram adquiridos sobretudo à Rússia e, em fases anteriores, a países europeus. Dados do Stockholm International Peace Research Institute indicam que, há cerca de duas décadas, a China figurava entre os maiores importadores mundiais de armamento.


Esse cenário alterou-se de forma significativa.


A quota chinesa nas importações globais de armas caiu de forma acentuada e o país deixou de integrar o grupo dos dez maiores compradores. Paralelamente, Pequim passou a exportar mais armamento, posicionando-se hoje como o quarto maior exportador mundial, atrás apenas dos Estados Unidos, França e Rússia.


Este percurso está alinhado com a estratégia defendida por Xi Jinping, que tem insistido na necessidade de reduzir dependências externas em sectores considerados estratégicos, da energia aos semicondutores, passando pela defesa. A autonomia industrial, segundo esta visão, é vista como um factor essencial para resistir a pressões económicas e tecnológicas de potências rivais.


A reorganização do complexo militar-industrial chinês desempenhou um papel central neste processo.


O Governo concentrou recursos humanos e financeiros, promoveu a cooperação entre universidades e empresas estatais e integrou tecnologias emergentes, como inteligência artificial, nos ciclos de concepção e teste. O resultado foi uma aceleração no desenvolvimento de novos sistemas, incluindo navios de guerra, submarinos e aeronaves de última geração.


Um dos exemplos mais visíveis é o novo caça furtivo Shenyang J-35, apresentado publicamente em 2024, que coloca a China num grupo restrito de países com mais de um modelo operacional de aeronave stealth. O aparelho é frequentemente comparado ao F-35 norte-americano, embora analistas sublinhem diferenças relevantes em fiabilidade e maturidade tecnológica.


Apesar dos progressos, especialistas ocidentais reconhecem que os motores chineses ainda não igualam plenamente os padrões de durabilidade dos equivalentes norte-americanos, que conseguem operar durante mais horas antes de necessitar de manutenção profunda. Ainda assim, a trajectória é considerada consistente e rápida.


A crescente capacidade industrial chinesa tem implicações directas no equilíbrio estratégico global. A produção interna de armamento reduz constrangimentos logísticos em cenários de conflito e reforça a margem de manobra de Pequim num contexto de rivalidade entre grandes potências. Ao mesmo tempo, episódios recentes envolvendo o desempenho de sistemas chineses em exercícios e confrontos regionais têm alimentado o debate internacional sobre o grau real de maturidade destas tecnologias.


Para analistas de segurança, a questão central deixou de ser se a China consegue produzir os seus próprios sistemas militares essenciais.


O foco passou a estar em até que ponto essa capacidade poderá alterar, a médio e longo prazo, a arquitetura de segurança internacional e a relação de forças com os Estados Unidos e os seus aliados.


Assinatura: Helena Vale | (Mapa de Coisas Sérias)


Ilustração tipo capa de livro com um jato furtivo em primeiro plano, navios de guerra ao fundo, céu vermelho e bandeira da China; texto “Armas Próprias”, “Helena Vale” e “albertocarvalho.com”.
CHINA - Armas Próprias

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