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Alberto Carvalho — Narrador para quem ainda escuta as palavras

O espaço de Alberto Carvalho, crónicas, contos e reflexões para quem lê devagar

Quando a Casa se Torna Silêncio em Portugal

A violência doméstica não se mede em números, mas em vidas profanadas.


Ouço dizer que numa só semana foram quase trezentos os casos de violência doméstica registados pela polícia.


Contam-me que no ano passado chegaram a dezenas de milhares.


Mas números são apenas isso — contas frias.


O que me assusta não é a soma: é imaginar que cada número é um rosto, uma criança que se cala, uma mulher que se esconde, um homem que não ousa pedir ajuda.


As estatísticas correm pelos jornais como chuva em vidro.


Escorrem, impressionam por instantes e depois perdem-se.


O verdadeiro escândalo é este: a indiferença que se instala quando deixamos que a violência se torne rotina.


A casa deveria ser templo. A mesa, altar de encontro. O quarto, abrigo.


Mas há casas que se tornam cavernas de medo, mesas que são palco de humilhação, quartos que guardam mais silêncio do que repouso.


Cada gesto de violência é um sacrilégio contra a dignidade humana — e não há lei ou sentença que repare totalmente essa profanação.


Rezamos. Sim, rezamos pelas vítimas.


Mas a oração não pode ser um suspiro vazio.


Precisa de se transformar em ação: numa porta que se abre, numa denúncia que se faz, num vizinho que não fecha os olhos.


A fé que se limita a contar terços sem se deixar comover é apenas repetição.


Cristo nunca contou vítimas, chamou-as pelo nome.


É isso que nos falta: sair da frieza dos totais e olhar cada vida como única.


Só assim os números deixam de ser estatística e passam a ser grito.


E só assim a oração se converte em justiça.


Frei Lourenço de Santa Clara


Uma mãe abraça a filha com afeto; a cena lembra uma imagem sagrada, mas pertence ao dia comum — amor silencioso e protetor.
Mãe e filha num gesto de ternura

3 comentários

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Convidado:
31 de ago.
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

E a tristeza e a desilusão que habitam em tantos lares ...

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Convidado:
31 de ago.

Uma das misérias no nosso país e a Justiça que não tem mão pesada para estes covardes que só têm maus tratos para mulheres indefesas e os filhos assistir a esta barbárie .....Se lhe dessem penas de 25 anos,eles aprendiam,eu vejo casos na televisão que entram no tribunal e saem de seguida com a proibição de se não chegarem junto das mulheres,ora se ficam livres é para repetir a mesma façanha... é de lamentar ao que chegou o nosso país,a todos os níveis......

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Convidado:
31 de ago.
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

O que me arrepia não são só os números, é imaginar o silêncio de quem sofre dentro de casa e ninguém ouve. Abraços, amigos.

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