O valor do silêncio
- Frei Lourenço de Santa Clara - Narrador

- 10 de ago.
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Senhor, antes do som veio o sopro.
E antes do sopro, a Tua proximidade.
No adro da manhã, quando o sino ainda repousa, há uma quietude que prepara a assembleia melhor do que qualquer palavra.
O acólito estende a toalha do altar; o coração aprende, devagar, a estender também a sua mesa.
No breviário, entre dois salmos, não há vazio: há pausa.
Respiração.
Um intervalo onde a oração toma corpo sem pedir frase.
Tu sabes: tememos a calma porque nela escutamos demasiado.
Por isso apressamos o rumor, multiplicamos notícias, ocupamos cada fresta com comentários — como se o barulho fosse bênção e a espera, castigo.
Mas a trégua do mundo que nos concedes não apaga; envolve.
Sobe como incenso.
Cura devagar.
Dá espaço à ferida para respirar sem vergonha.
É nesse recolhimento que a decisão aprende a ser justa, que a esperança não precisa de gritar para existir, que a caridade encontra a sua hora — não a nossa, a Tua.
E, quando enfim regressamos à nave, levando connosco a luz breve das velas e o rumor de quem chega, percebemos que a palavra só vale quando foi precedida por esta escuta, por este consentimento íntimo em deixar-Te falar primeiro, mesmo que apenas por sinais pequenos, quase invisíveis.
Concede-nos, Senhor, a graça de não fugir da quietude santa.
E que, ao voltarmos à assembleia, o que dissermos retenha o perfume do incenso e a disciplina de quem foi enviado em paz.
Frei Lourenço de Santa Clara — Pequenos Tratados do Invisível




“Concede-nos, Senhor, a graça de não fugir da quietude santa”.