O País que Se Perde na Correria
- Alberto Carvalho - Narrador

- 1 de set.
- 2 min de leitura
O País que Se Perde na Correria
Um país não se perde apenas nas guerras ou nas crises: perde-se também quando corre sem saber para onde.
O século XX trouxe estradas asfaltadas, automóveis, aviões, e uma pressa que parecia sinónimo de progresso.
As cidades cresceram depressa demais, os campos esvaziaram-se sem despedida, e as distâncias que antes eram muralhas tornaram-se meros números nos placares das autoestradas. A mobilidade deixou de ser exceção para se tornar obrigação.
Mas cada conquista tem a sua sombra.
O automóvel encurtou caminhos, mas alargou o isolamento; as estradas permitiram chegar mais longe, mas também esquecer de onde vínhamos.
A pressa tornou-se virtude, como se o valor de cada vida pudesse medir-se pela velocidade com que se gasta.
O comboio que outrora deslumbrara pela novidade cedeu lugar a aviões que fazem de Lisboa e Londres vizinhas de poucas horas.
Só que o tempo, em vez de se ampliar, encolheu. Vivemos cada vez mais rápido e cada vez menos fundo.
Hoje, Portugal já não sofre da lentidão, mas da vertigem.
O telemóvel apita antes que o pensamento amadureça, a resposta chega antes que a pergunta se forme. Esquecemos como se espera, esquecemos até como se caminha devagar.
O país que durante séculos não andava tornou-se um país que já não sabe parar. E se antes o problema era não sair da aldeia, agora o risco é não ter morada em lado nenhum.
Olho este presente e pergunto: que lugar resta para a memória num país que vive em trânsito permanente?
Talvez devêssemos reaprender a cadência perdida, recuperar a dignidade de um tempo habitado sem urgência. Porque um país que só corre acaba por perder o compasso da própria alma.
AC




Mais um belo texto de reflexão sobre o que o progresso e a pressa nos transformou num mundo de "loucos". A vida deixou de ter a qualidade e a tranquilidade de que tanto precisamos .Obrigada por estarem desse lado