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Alberto Carvalho — Narrador para quem ainda escuta as palavras

O espaço de Alberto Carvalho, crónicas, contos e reflexões para quem lê devagar

O Caderno das Duas

Atualizado: 10 de ago

No Caderno das Duas, as páginas não se escrevem sozinhas.


Há nelas duas vozes, nascidas com um ano e pouco de distância, que se encontram num mesmo papel e se desafiam sem pedir licença.


A mais velha mede o mundo como quem percorre um mapa antigo, sublinhando cada detalhe e perguntando-se onde começa a mudança.


A mais nova atravessa o dia como quem corre atrás de uma ideia antes que ela fuja, rindo-se das regras e colecionando espantos.


Entre ambas, o que nasce não é apenas um diálogo — é um retrato vivo de uma idade em que tudo ainda pode ser reinventado.


E é dessa conversa, entre a paciência e a pressa, que se escreve aqui o futuro.


A mais velha — 13 anos


Escreve como quem atravessa uma ponte devagar, observando o rio e as margens antes de dar o passo seguinte.


Gosta de sublinhar palavras no dicionário e de colecionar frases que encontra em livros velhos.


A sua prosa é medida, quase matemática, mas com uma ternura escondida nas entrelinhas.


Prefere textos longos, em que possa construir raciocínios, levantar hipóteses e deixar perguntas no ar.


Fala de injustiças com um misto de indignação e paciência, como quem acredita que mudar o mundo exige mais do que pressa: exige clareza.


No Caderno das Duas é a voz que organiza, que liga as ideias e que, mesmo em silêncio, está sempre a pensar no que virá a seguir.


A mais nova — 12 anos


Escreve como quem corre descalça numa rua cheia de sol.


As palavras saem-lhe em rajada, ora a rir, ora a provocar, ora a espantar-se com coisas que os adultos já não veem.


Não se preocupa com rascunhos: escreve à primeira e raramente apaga.


Troca facilmente de tema, salta de uma ideia para outra como quem muda de passeio.


É capaz de transformar um episódio da escola numa crónica afiada ou um rumor de recreio numa quase poesia.


No Caderno das Duas é a faísca, a gargalhada que começa um texto e a exclamação que o fecha.



E há ainda um terceiro olhar — o do irmão de seis anos — que ouve todas as histórias como quem descobre um segredo e, mesmo sem escrever, encontra palavras certas para as contar de novo.


Entre os três, o que nasce não é apenas um diálogo: é um retrato vivo de uma idade em que tudo ainda pode ser reinventado.


É dessa conversa, entre a paciência, a pressa e o espanto, que se escreve aqui o futuro.


Usam o avatar que lhes desenhámos: duas figuras lado a lado, cúmplices, com expressões diferentes mas o mesmo brilho no olhar — como se estivessem prestes a contar um segredo que o mundo ainda não ouviu.


AC


Avatar das duas irmãs do Caderno das Duas, lado a lado, com expressões distintas mas cúmplices, olhando como quem guarda um segredo para partilhar.
As duas irmãs do Caderno — cumplicidade e contraste num só olhar.
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