O Caderno das Duas
- Caderno das Duas
- 9 de ago
- 2 min de leitura
Atualizado: 10 de ago
No Caderno das Duas, as páginas não se escrevem sozinhas.
Há nelas duas vozes, nascidas com um ano e pouco de distância, que se encontram num mesmo papel e se desafiam sem pedir licença.
A mais velha mede o mundo como quem percorre um mapa antigo, sublinhando cada detalhe e perguntando-se onde começa a mudança.
A mais nova atravessa o dia como quem corre atrás de uma ideia antes que ela fuja, rindo-se das regras e colecionando espantos.
Entre ambas, o que nasce não é apenas um diálogo — é um retrato vivo de uma idade em que tudo ainda pode ser reinventado.
E é dessa conversa, entre a paciência e a pressa, que se escreve aqui o futuro.
A mais velha — 13 anos
Escreve como quem atravessa uma ponte devagar, observando o rio e as margens antes de dar o passo seguinte.
Gosta de sublinhar palavras no dicionário e de colecionar frases que encontra em livros velhos.
A sua prosa é medida, quase matemática, mas com uma ternura escondida nas entrelinhas.
Prefere textos longos, em que possa construir raciocínios, levantar hipóteses e deixar perguntas no ar.
Fala de injustiças com um misto de indignação e paciência, como quem acredita que mudar o mundo exige mais do que pressa: exige clareza.
No Caderno das Duas é a voz que organiza, que liga as ideias e que, mesmo em silêncio, está sempre a pensar no que virá a seguir.
A mais nova — 12 anos
Escreve como quem corre descalça numa rua cheia de sol.
As palavras saem-lhe em rajada, ora a rir, ora a provocar, ora a espantar-se com coisas que os adultos já não veem.
Não se preocupa com rascunhos: escreve à primeira e raramente apaga.
Troca facilmente de tema, salta de uma ideia para outra como quem muda de passeio.
É capaz de transformar um episódio da escola numa crónica afiada ou um rumor de recreio numa quase poesia.
No Caderno das Duas é a faísca, a gargalhada que começa um texto e a exclamação que o fecha.
E há ainda um terceiro olhar — o do irmão de seis anos — que ouve todas as histórias como quem descobre um segredo e, mesmo sem escrever, encontra palavras certas para as contar de novo.
Entre os três, o que nasce não é apenas um diálogo: é um retrato vivo de uma idade em que tudo ainda pode ser reinventado.
É dessa conversa, entre a paciência, a pressa e o espanto, que se escreve aqui o futuro.
Usam o avatar que lhes desenhámos: duas figuras lado a lado, cúmplices, com expressões diferentes mas o mesmo brilho no olhar — como se estivessem prestes a contar um segredo que o mundo ainda não ouviu.
AC
