Homenagem a António Lobo Antunes
- Alberto Carvalho - Narrador

- 2 de set.
- 1 min de leitura
Atualizado: 10 de nov.
Há silêncios que não se confundem com ausência.
António Lobo Antunes fez oitenta e três anos e já não escreve.
A doença roubou-lhe a pena, mas não lhe apagou a presença.
Porque um escritor não se mede apenas pelo último livro que entrega: mede-se pela ferida que abriu na língua, pelo clarão que deixou nas nossas leituras.
Quem leu Lobo Antunes sabe que a sua prosa é mais do que literatura: é uma respiração funda, uma torrente de vozes que não pedem licença.
Ele ensinou-nos que Portugal podia ser escrito com a mesma brutalidade e a mesma ternura com que se vive.
E agora, quando o silêncio se impõe, cabe-nos a nós repetir-lhe as palavras, como quem prolonga uma oração interrompida.
Não é despedida — é gratidão.
Lobo Antunes continua entre nós, também nos livros que pesam como pedras e brilham como cicatrizes.
O silêncio da sua mão é apenas o eco de uma obra que não se cala.




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