Nunca Mais Calados
- Alberto Carvalho - Narrador

- 27 de ago.
- 2 min de leitura
Senhor Presidente da República,
Não há maior traição à ideia de pátria do que permitir que os seus filhos e as suas mulheres vivam com medo dentro das próprias casas.
Portugal não se mede apenas pelo PIB ou pelas exportações: mede-se, sobretudo, pela coragem de proteger os mais frágeis. E nesse campo falhamos todos os dias.
Os números que nos chegam não são estatísticas: são gritos.
São crianças que aprendem cedo demais o silêncio da humilhação.
São mulheres que conhecem o peso de um olhar que ameaça, de uma mão que fere, de uma porta que se fecha.
Cada vida destruída entre paredes deveria ser um alarme nacional. E, no entanto, a cada semana há mais um rosto sem que o país inteiro pare.
Por isso lhe peço, Senhor Presidente, que convoque não apenas as instituições mas também a alma coletiva: que faça da luta contra a violência doméstica uma causa nacional, urgente e inadiável.
Precisamos de leis mais firmes, sim; mas precisamos sobretudo de uma cultura que não tolere desculpas, que não aceite pactos de silêncio, que não esconda a vergonha atrás da palavra “privado”.
A justiça deve ser chamada a integrar esta campanha desde já, não apenas como quem decide no fim, mas como parte que acompanha o processo e reconhece os elementos que a sociedade vê.
As crianças não podem esperar.
As mulheres não podem esperar.
E o país, se tiver memória, também não pode.
Que esta campanha nacional seja um compromisso de Estado e um pacto entre todos os portugueses: nunca mais fechar os olhos, nunca mais ouvir calados, nunca mais permitir que o medo tenha lugar na mesa de uma família.
Com respeito e esperança,
AC




Um desígnio nacional, sim!
Tenho filhas e netas. Só de pensar no medo que tantas mulheres e crianças vivem todos os dias, fico gelado. Obrigado por pôr em palavras aquilo que muitos não têm coragem de dizer.
Este texto devia ser lido em voz alta no Parlamento. Não é política, é humanidade. Quantas mais vidas precisamos de perder para perceber que isto é urgente?”
Não se trata de esquerda ou direita. Trata-se de proteger quem não se consegue proteger sozinho. Uma campanha nacional já devia estar nas ruas há anos.