O País que Já Não Sabe Parar
- Alberto Carvalho - Narrador

- 1 de set.
- 1 min de leitura
O País que Já Não Sabe Parar
No século XXI, Portugal não é já o país imóvel dos avós nem o país cauteloso dos primeiros comboios.
É um país que vive em correria, como se a pressa fosse a sua nova bandeira.
A viagem deixou de ser exceção: tornou-se rotina.
Voos baratos fazem de Londres uma vizinhança de fim de semana, comboios de alta velocidade encurtam fronteiras que antes eram muralhas, e a internet dissolve a distância num instante. A mobilidade já não espanta: sufoca.
As ruas parecem mais largas, mas os dias são mais curtos.
O telemóvel apita antes que o pensamento amadureça, as mensagens chegam antes da saudade, a resposta antecede a pergunta.
A aceleração tornou-se tão íntima que já nem se percebe como violência.
As pessoas vivem em trânsito permanente: se não viajam de corpo, viajam de dedo, deslizando em ecrãs que abrem mundos sem os deixar habitar.
E, no entanto, quanto mais corremos, menos pertencemos. O aeroporto substituiu a praça, a notificação substituiu a carta, e a aldeia — outrora prisão — tornou-se miragem de estabilidade.
Não é nostalgia dizer que se perdeu algo: é apenas constatar que a pressa não constrói raízes. Pode mover corpos, pode multiplicar encontros, mas não garante memória.
Vejo este século como um espelho invertido: onde antes faltava caminho, agora falta permanência. Onde antes havia excesso de chão, agora sobra ausência de chão.
Portugal já não sofre da lentidão ancestral, mas da vertigem moderna. Entre a paragem forçada e a pressa sem destino, resta-nos a arte esquecida de habitar o tempo.
AC




Onde está o tempo para pensar? Na simples observação do meu dia a dia, somos cada vez menos humanos e mais humanoides, verifiquem quando passeiam na rua quantas pessoas usam os braços numa mão o telemóvel e na outra a trela do cão?? Como que elas correr 10 metros no passeio????